De geração para geração: Projeto “Colhendo Memórias”, do Museu da Cana, valoriza a herança cultural da região
Crianças e idosos se reuniram em Pontal para exaltar a cultura caipira, no dia 11 de novembro
Dando sequência em suas ações, o projeto “Colhendo Memórias” promoveu um encontro inédito que marcou gerações: crianças, estudantes do 4º ano do Ensino Fundamental da Escola Wagner Luciano da Silva e integrantes da terceira idade do CRAS, de Sertãozinho, juntos, transformaram o Museu da Cana em um palco de celebração da cultura caipira, na manhã desta sexta-feira (11).
A interação, feita com a recepção lúdica de artistas e recreadores do projeto, ocorreu na Fazenda Engenho Central, um dos mais preservados cenários da região no que se refere à atividade agrícola, baseada na produção de cana-de-açúcar.
E não faltaram histórias, cantigas e brincadeiras – desenvolvidas especialmente para o projeto – para celebrar o encontro que valoriza e mantém viva a herança cultural da região, permeando o conhecimento que habita na memória de cada pessoa.
Encontros
Diante de um cenário totalmente acolhedor e personalizado para a ação, as crianças e os idosos assistiram à peça de teatro; participaram de oficina; e, ainda, de uma roda de canto e dança. Tudo resgatando as antigas tradições como, por exemplo, a Folia de Reis, mas trazendo também importantes reflexões como o que pode causar felicidade a uma pessoa. As respostas, neste caso, foram bem criativas e variadas: desde um passeio à casa de um primo como também o fato de estar vivo e com saúde.
O estudante João Guilherme Silva Pinheiro, de 10 anos, gostou principalmente das oficinas. “Eu fiz um desenho em que estou jogando bola. Também ajudei a criar um Papai Noel e que me traz boas memórias, por isso estou gostando muito”, disse.
Animada, a estudante Sofia Vitória Lucio Santos também comentou sobre o encontro, celebrando: “É bom fazer desenho e amizade. E quando chegar em casa vou falar pra minha mãe que fiz muitas coisas legais aqui no Museu da Cana.”
Confecção de estandartes
Na oficina de confecção de estandartes em papel, inspirados na Folia dos Santos Reis, fortemente enraizada na cultura regional, todos se juntaram para uma troca de aprendizado e de experiências. O grupo da terceira idade também aprovou o encontro. Uma das integrantes, a radialista e jornalista Noemi Peloso, comparou a vivência desta sexta-feira a um bom show de rock, do qual é fã. “Esse evento traz alegria e vida! Foi uma interação muito boa e que leva, realmente, à troca de experiências”, disse.
A colega dela, a aposentada Maria Pereira Lele, fez uma bandeira onde escreveu: “Feliz Natal, estou feliz de estar aqui com as minhas crianças”. Ela disse que o encontro acabou com a tristeza. “Eu vivo sozinha, gosto de cantar, contar histórias e estar no meio dos outros. Por isso, hoje é o dia mais feliz da minha vida”, afirmou.
Resgate da cultura popular
Adriana Scannavez, atriz e produtora cultural, participa do Grupo Teatral que encena o “Colhendo Memórias” desde o início, frisa que a iniciativa é um importante resgate da cultura popular. “A contação retrata as vivências a partir da Dona Vandair e Nair, que ainda moram no Engenho Central. Elas nos falam dos relacionamentos, festas, encontros e preparação de comidas. E, assim, as histórias são contadas para crianças que não vivenciaram esse período. Hoje, plantamos essa sementinha para que elas entendam a importância do que está sendo contado”, avaliou.
E a moradora da colônia que existe até hoje no Museu partilhou desse encontro. A Dona Vandair Rosa de Oliveira (carinhosamente chamada por todos de Dona Vanda) nasceu em Igarapava, trabalhou no corte de cana e criou seus quatro filhos na colônia da Fazenda. Ela lembra com saudosismo do passado.
“Dançamos muito forró aqui no barracão. A religiosidade também esteve sempre presente nas nossas vidas, pois até hoje uma vez por mês tem missa lá em casa. E, mais do que nunca, me sinto feliz em ver como nossas vidas são contadas”, contou com um largo sorriso no rosto, esbanjando simpatia a todos. E o segredo para ter uma vida boa e feliz mesmo com o passar da idade? “Não beber, não fumar e sentir muito amor”, revela.
Divisor de águas
Leila Heck, gestora do Museu da Cana, avaliou o encontro como um divisor de águas. “Hoje foi especialmente importante para todos nós. Essa nova experiência vai se desdobrar em novos projetos ou ajustes para edições futuras. E, junto com os educadores, arte-educadores, pedagogos e roteiristas vamos analisar as potencialidades pedagógicas e assim, rascunhar o Colhendo Memórias no futuro”, afirmou.
Para Maria Esteves, produtora executiva, que desenhou e deu vida ao Colhendo Memórias, o projeto foi estruturado de modo visionário, mantendo a essência de valorizar a herança cultural. “O Colhendo Memórias foi estruturado a partir de um núcleo conceitual que suporta a inovação de suas práticas educativas sem perder seu compromisso com a preservação e valorização do patrimônio imaterial acolhido pelo Museu da Cana. E, assim, a união de públicos diversos como crianças e idosos foi colocada como uma experimentação aberta para a criação de novas ações educativas, dentro das múltiplas possibilidades pesquisadas”, conclui.
Mais sobre
O Projeto Colhendo Memórias é realizado pelo Museu da Cana e pelo Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, tendo como patrocinadores as empresas Savegnago Supermercados e Sorocaba Refrescos | Coca Cola, apoio institucional da Secretaria de Ensino de Pontal, e produção executiva da Associação Engenho Cultural. É uma iniciativa para preservação do patrimônio cultural imaterial acolhido na fazenda Engenho Central, local que abriga o Museu da Cana, de forma a reconhecer e promover à diversidade cultural manifesta no nordeste paulista.