Bebês reborn: entre os benefícios terapêuticos e os desafios legais e emocionais

O uso dos bebês reborn — bonecos hiper-realistas que simulam bebês reais — tem gerado discussões cada vez mais amplas no Brasil, envolvendo aspectos de saúde mental, ética, direito e até uso inadequado de serviços públicos. Enquanto alguns utilizam os bonecos para conquistar audiência nas redes sociais, há quem desenvolva vínculos emocionais genuínos, com impacto positivo na saúde mental.

Contudo, especialistas alertam: é fundamental estabelecer limites. O apego excessivo pode trazer distorções da realidade, além de levantar questões jurídicas e sociais. “Estamos diante de um fenômeno relativamente novo, que desafia o direito, especialmente pela ausência de uma legislação específica. Isso exige uma interpretação cuidadosa das normas existentes, considerando valores como afeto, liberdade, responsabilidade e autenticidade”, explica José Vinicius de Santana, advogado e professor de Direito da Wyden.

Segundo ele, embora não haja uma legislação voltada exclusivamente para os bebês reborn, é possível aplicar dispositivos do Código Civil, Código Penal e do Direito do Consumidor em situações de abuso ou fraude. “Quando há, por exemplo, simulações que mobilizam de forma indevida serviços públicos, como o SUS, ou geram denúncias falsas, cabe, sim, a responsabilização, sempre levando em conta as circunstâncias específicas de cada caso”, destaca.

Do ponto de vista psicológico, os bebês reborn podem ter uma função terapêutica, desde que seu uso seja acompanhado por profissionais e inserido em um contexto de cuidado psicológico. “Eles podem ser utilizados como recurso auxiliar em processos de luto, infertilidade, depressão, ansiedade, quadros de demência ou isolamento social. Nesses casos, ajudam na regulação emocional, no desenvolvimento de vínculos afetivos e na organização da rotina”, explica a psicóloga clínica, Bárbara Guimarães e docente da Wyden.

Apesar dos benefícios, o alerta dos especialistas permanece: é essencial ter equilíbrio. “Quando o apego ultrapassa o limite saudável e o indivíduo começa a projetar no boneco desejos não realizados, fantasias ou carências afetivas de maneira desfuncional, isso pode indicar uma desconexão com a realidade, o que exige acompanhamento profissional”, orienta a psiquiatra e professora de Medicina do IDOMED, Paula Colodetti.

O tema ainda deve seguir em debate, não apenas na sociedade, mas também no meio acadêmico e jurídico, dada a complexidade que envolve saúde mental, responsabilidade social e as fronteiras da legislação diante de novas dinâmicas culturais.

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