Pau D’Alho: a história da fazenda em que Dom Pedro foi recebido pela porta dos fundos e comeu no chão

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Pau D’Alho recebeu a visita do príncipe regente a poucos dias do grito da independência

Foi a algumas léguas do histórico local do grito da independência que Dom Pedro fez uma parada para repor as energias em São José do Barreiro, na viagem que teve início em 14 de agosto de 1822. Antes da declaração de independência, a recém-construída Fazenda Pau D’Alho, localizada no município do Vale do Paraíba, seria um recorte da história da comitiva que seguiu até as margens do Ipiranga do 7 de setembro.

Localizada no km 262 da SP-068 (Rodovia dos Tropeiros), preservada e aberta à visitação, a Fazenda Pau D’Alho, construída na transição do século 18 para 19 por João Ferreira, é hoje um dos raros edifícios que mantêm viva esta passagem histórica de Dom Pedro pela região. A história não-oficial, mas muito presente no imaginário popular, afirma que Dom Pedro disparou com seu cavalo e tomou a frente para bater à porta da fazenda, onde foi recebido como um soldado comum e almoçou no chão da cozinha. Ainda teria recebido um aviso desavisado do pessoal da fazenda: “Apresse-se, Dom Pedro está para chegar”.

Apesar de não existirem registros de como foi a passagem de Dom Pedro pela Pau D’Alho, o que o príncipe encontrou naquela visita era uma fortificação imponente, de arquitetura militar, e a plantação de café já formada no entorno. “Nesta época é muito difícil pensar em acesso a alimento, mas a chegada de um príncipe requer investimentos. Era um grande momento que exigia uma grande logística, apesar de se tratar de um homem de modos simples e de fácil relacionamento como pessoa. O fato é que famílias vão tentar fazer o melhor para receber o príncipe”, afirma Diego Amaro, historiador e escritor do Vale do Paraíba.

Mais do que ser um cenário da história da Independência e trecho que compunha a Trilha Real, São José do Barreiro foi um marco para a história do novo período, que marca o encerramento do ciclo do ouro e início do cultivo do café. Neste contexto, a Fazenda Pau D’Alho foi além de uma produtora que teve o seu protagonismo no cultivo da fruta à época, sendo um ponto de referência para o abastecimento de viajantes, entre eles, comitivas reais. Além do café, a região era muito forte no cultivo de açúcar, tabaco e da economia de subsistência.

Berço do Brasil independente

Daquele tempo e até a Era Vargas, São José do Barreiro compôs um cenário regional que representaria a base econômica para o Brasil independente. A Fazenda Pau D’Alho, a primeira preparada especificamente para o cultivo do café, fez de Barreiro uma perspectiva interessante para Dom Pedro, que fazia visitas constantes à região para evitar problemas com separatistas, formar alianças e mostrar que estava ali para representar as vilas, fazendeiros e agricultores. Segundo Diego, um processo de fortalecimento da presença do Estado. “Barreiro, naquela ocasião, era uma grande possibilidade de potência econômica. O Vale do Paraíba vai ter impacto econômico a partir dali e vai sustentar o Segundo Império. E a cidade tem a pujança econômica necessária para o início do novo momento do Brasil, em 1822”, completa.

A Fazenda Pau D’Alho é atualmente um dos pontos de referência para o turismo histórico e para compreender as profundas mudanças do Brasil de um século atrás. “É um ponto obrigatório para se compreender vários roteiros, não apenas o que está ligado à Independência do Brasil, um dos mais importantes, mas ao período do café, os barões do café, a literatura do Vale do Paraíba. Representa a memória de muitas gerações, do começo da história do Brasil enquanto nação independente. É simbólica para todo o país se entendermos que os recursos desta região seriam importantes para a manutenção desta nova nação. A fazenda é um exemplar por iniciar seu trabalho neste período. É a memória da força de um período que começa a se organizar no Brasil”, avalia Diego.

Visitação

A casa senhorial é hoje um dos pontos de maior interesse para o turismo pedagógico na região, mas também recebe outros grupos regularmente, desde empresários, famílias e escolas. As visitas monitoradas são uma imersão nos diversos períodos da fazenda, desde sua construção, iniciada em 1792 e concluída em 1817, até os dias atuais.

Vista alta era estratégica para vigiar escravos nas plantações de café

Todos os meses, passam pela Fazenda Pau D’Alho cerca de 300 pessoas. As visitas são de quinta-feira a domingo, das 9h às 16h e não precisa de agendamento prévio. A entrada é gratuita desde a parceria firmada entre a prefeitura e o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), em 2017.

Na visita guiada pelo monitor de turismo histórico, Alexandre Henrique do Prado, o visitante compreende a função de cada espaço nos 2,6 mil metros quadrados de construção, desde a residência, cozinha, até a senzala, que já tinha um outro formato no período que seguia para a abolição da escravidão e dificultava o acesso a escravos.

“Barreiro é uma cidade histórica e que tem um rico repertório aos apreciadores do turismo que preserva o patrimônio e mantém vivo importantes momentos do país, desde o período imperial até a Revolução de 1932. Por isso, o turismo pedagógico é outra vertente que tem atuação destacada em nosso município, cada vez mais procurado por visitantes que buscam resgates do ciclo do café, ainda muito presentes nas fazendas históricas construídas nesta época e que seguem preservadas dado seu valor histórico”, afirma Ana Paula Almeida, secretária de Turismo de São José do Barreiro.

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